segunda-feira, 8 de abril de 2013

Escada Rolante

 

Ela veio rolando. A primeira ver que a vi, foi diferente.

Não ela não é gorda e mesmo que fosse não faria uma brincadeira dessas, pelo menos não onde ela possa se vingar um dia.

Blusinha e Jeans, tênizinho casual e cabelo solto como o velho gosta. Eu, bom não vem ao caso minha roupa mas era uma roupa normal, eu acho. Ela vinha do mezanino, caminhando suave sem olhar pra ninguém, parecia inatingível.

Veio a escada, e por um segundo eu vi ela hesitar e olhar para o lado antes do primeiro passo, posso ter imaginado isso, ela me olhou de relance, como quem apenas vê. E o charme começou!

O pé esquerdo foi culpado de uma pisada em falso, direto ao chão, não ao chão onde eu estava, mas ao chão de encontro a escada, sabe quando você joga uma daquelas gosmas gelatinosas no chão e ela vai certeira sem desviar, assim foi ela, parecia que ela queria algo do chão, parecia que tinha amor naquele vigésimo segundo degrau (de baixo pra cima). Uma batida seca e vi que não foi correspondido.

Não parou por ai, a partir desse primeiro encontro ela foi rolando a baixo, no melhor estilo mola maluca, beijando cada degrau que sua cara encontrava, ela deveria estar de cabelo preso, isso evitaria que a cada giro ela tivesse eles em sua boa, falo dentro da boca. Os cabelos esvoaçando levantavam levemente a poeira da escada que ia também direto para as piores áreas, boca, olhos, nariz …

Bom, amor não correspondido ela parou no chão, fora da escada com o rosto voltado para o chão. Ela pareceu evitar levantar, parecia que esperava alguém e ao mesmo tempo parecia que não queria ninguém, quando ela começou a ficar de pé vi que a segunda opção era a verdadeira.

Olhou para todos como se nada tivesse importância, olhou um por um, mas pulou a mim, por que?

Caminhou, com a direita marcou a direção e a esquerda avançou, vacilou. Em um momento eu vi nos seus olhos toda a dor que ela sentiu, uma dor que só ela entendia e o desprezo nos olhos. Ela não viu, ninguém viu apoiei para que ela se equilibrasse e voltei ao meu posto, ninguém viu aquilo.

Caminhou, agradeceu a todos com o mais sincero aceno “ ,!,, ”  que pode, claro e objetivo.

Quis saber de onde veio tanta dor, e como ela se ergue assim… pensei nela durante mil anos nesses segundos que se passaram.

Passou, não me olhou ou não me viu. bateu a porta.

Não a vi mais.