segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Lembranças

 

A manhã de domingo é algo que não vivi, pelo menos não a parte consciente e subconsciente de minha existência, talvez o inconsciente ficou fazendo algo e achou melhor manter segredo.

A tarde ficou por conta de um papo mais sossegado com o Wagner, que estava em minha casa, colocamos a conversa em dia e discutimos uma antiga ideia de criação de uma saga de livros. Seria um conto sobre uma vida passada, em que fomos integrantes do mesmo cenário. Provavelmente sairá do papel.

Um velho apelido veio a tona, Guardião e em algumas vezes para sacanear me chamavam de Querubim. Conseguir desenvolver a habilidade de voar é muito raro, muito poucos dos nossos conseguem, e quando eu digo poucos são poucos.

Em um passado não muito distante, tivemos um problema de contenção, uma menina, lembro muito bem dela, pele clara e com olhos escuros, seu cabelo preto era liso e macio, carregava um aroma doce, como se a primavera vivesse junto com ela, não era baixa nem alta. Aparentava ter 20 anos, ela tinha a minha idade, a única coisa que não lembro é seu nome (espero que ela não leia).

Há algumas pessoas que só descobrem seus poderes entre a puberdade e a o início da vida adulta, ou até mesmo por volta dos 40. Ela faz parte do primeiro caso.

O seu corpo estava quente… pude sentir ele se aquecendo a medida que ia me aproximando, ela estava com medo, e isso é normal nesses casos, até algumas horas atrás tudo era normal e agora isso. o Pior que podia ter acontecido era ela explodir, eu precisava evitar. Nada do que as pessoas falavam adiantava, ela estava assustada demais pra acreditar que havia mais pessoas como ela, tudo só piorava. A Adrenalina é um ótimo combustível para o fogo, esse tipo de fogo.

Uma descendente do fogo, pode causar muito estrago,um dos presentes mencionou que ela poderia explodir se não se acalmasse, só piorou.

O tempo era curto, estávamos em uma rua próxima a uma escola, em pleno horário de aula, eu era o mais metido a "heróizinho" tinha que fazer algo, se não contivéssemos a explosão dessa essência dela, uma tragédia estaria sendo escrita.

- Apenas confie em mim. Falei enquanto começava a correr na direção dela.

- O que?

Abracei ela e senti seu calor intenso, ela estava queimando literalmente, o fogo já circulava suas linhas, percebi que minha pele não suportaria por muito tempo, já já ia me queimar feio.

- Me Abraça. gritei

- O que?

- Você não sabe falar outra coisa? confia em mim.

Ela me abraçou tão forte que ainda sinto seus braços envoltos a mim, o fogo fazia seu cheiro penetrar mais ainda, foi o que me fez parar de pensar em meus braços queimados e ardendo muito.

Tinha que ser agora, tinha que funcionar, para o bem de todos, para o bem dela, e também por que eu queria continuar vivo. Saltei, usei toda a minha força pra me atirar o mais alto possível, ela me apertou mais e minha camisa acabara de cair em trapos enquanto queimava as ultimas linhas de tecido.

Olhei pra ela antes de fechar os olhos, e assim imaginei meu corpo flutuando, o ar conspirando ao meu favor e não me deixando voltar para o chão, isso não acontecia. A gravidade começou a trabalhar contra mim, a queda era inevitável, seus cabelos subiam. Fracassei.

- Obrigado por tentar.

Uma dor súbita correu pelo meu corpo, soltei meu braços enquanto me contorcia para trás, ela não caiu, segurava firme. Não conseguia mais enxergar minha visão ficou branca, foi quando o vento que jogava os cabelos para cima, transformou-se em brisa e acariciava o meu rosto. Recuperei a visão. Estava a uns 300 metros do chão.

Em meus braços ela estava calma, a adrenalina não me permitiu sentir as dores das varias queimaduras, com a cabeça em meu peito ela estava de olhos fechados e sorrindo.

- Você é meu anjo da guarda?

Eu sorri. – Posso ser.

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